Monday, June 02, 2014


Viver com os Outros / Viver com as Outras / Living With the Others


“Viver com os Outros / Viver com as Outras” será, essencialmente, um evento artístico (happening), mais do que uma exposição de objectos, onde as protagonistas e os protagonistas serão os próprios públicos.

Cria-se, na Livraria Sá da Costa, uma espécie de grande sala de convívio com um cenário híbrido entre a memória do espaço existente e talvez uma “nidificação” pessoal.

Nada que não tivesse já sido feito no Boteco da Linha em Portugal (S. Pedro do Estoril) ou no Café des Arts no Benim (Cotonou), onde os espaços pessoais, íntimos, se tornam públicos. (Não é um “site specific” mas um evento artístico onde o periférico se torna, por vezes, a própria origem do projecto.)

Aqui acrescenta-se a partilha de alguns gostos criando-se a possibilidade de se pedir um café, servido pela pastelaria  vizinha, Benard, juntar um farnel trazido de outro lugar e ler alguma coisa. Pode comprar-se um livro, conversar ou até dormir um pouco. Pretendo criar um lugar acolhedor com um passado visível mas sem grande conotação social como pode ser, por exemplo, uma praça ou um jardim público numa cidade.

 “Viver com os Outros / Viver com As Outras” é uma proposta, (uma provocação?) que deseja questionar lugares e vivências existentes. Propõe atenuar fronteiras entre grupos sociais, desejos pessoais, passado, presente e até futuro acumulando “passados” de diferentes origens. Um passado pessoal, o passado das pessoas evocadas, o passado do local e o próprio passado de cada pessoa que está a utilizar o espaço.

O nome, “Viver com os Outros”, resulta do evangelho que me é distribuído, João 6, 60-69 que fala de opostos, de divisões, de murmúrios, de crença e descrença e de palavras duras, de relações, confianças e divisão entre pessoas.

“Viver com os Outros” é também o título de um livro de Isabel. Isabel da Nóbrega; A escritora que gosta de livros. Do que possam conter mas também do próprio objecto livro. Escreve “Viver com os Outros”. No livro, Isabel constrói o enredo a partir do diálogo, Usa o discurso directo. É um escrever muito directo. Isabel é a anterior habitante do meu local de trabalho em Lisboa.


Desejo transferir aqui para as artes visuais esta ideia de “discurso directo” onde o público estará, não só dentro da obra como fará parte dela. “O diálogo que poderá ir tecendo aquele sentido totalizador que é a pedra de toque de toda a obra de arte” como alguém disse sobre o livro de Isabel.